sábado, 6 de junho de 2015

Lotação Esgotada (1972)


A sétima longa-metragem de Manuel Guimarães, Lotação Esgotada (1972), é uma sátira ao poder patriarcal e às hierarquias do poder local. Mas, no meio da torrente de filmes dos inícios de 70 e já depois de afirmada a nova vaga portuguesa, este filme parece passar um tanto desapercebido. Dirá Lauro António:

«Lotação Esgotada é uma comédia com coisas bastante interesantes e outras profundamente falhadas. O melhor que poderemos dela dizer é que se vê sem que nos envergonhemos (nós, público) e sem que o realizador saia envergonhado. Nada traz de novo, mas tenta assimilar um certo tipo de liberdades narrativas que não deixam de ser uma agradável surpresa, vindas, como vêm, de um realizador que trabalha o cinema há mais de trinta anos» ( Diário de Lisboa, 16-5-1972).

Afonso Cautela é menos benévolo e pretendia uma sátira mais actual, apontada aos “pequeno-burgueses”:
«Chegamos a lamentar que, com um pouco mais de ambição, de tempo e de métier e de liberdade na realização, Manuel Guimarães não tivesse conseguido o filme interessante que esteve a pique de conseguir, e um verdadeiro retrato da vida portuguesa ao nível dos hábitos pequeno-burgueses (...)» (A Capital, 1972).

Continua a ser flagrante e inexplicável a incompreensão que o crítico mostra em relação à acção da censura sobre a obra cinematográfica, acção repressiva que ele, como jornalista, não podia deixar de conhecer por experiência própria...

Mas é Luís de Pina que, à época, reconhece neste filme o seu valor crítico, dizendo-o «uma peça do mais puro humor negro», uma «sátira de costumes» e uma «sátira social»:
«Torna-se evidente, do ponto de vista social, a crítica ao despotismo, na figura do presidente da câmara que se acha vítima da sua própria ambição, da sua intolerância, do seu desejo de facha-
da» (Observador, 1972).

Anúncio no Diário de Lisboa, em 11-5-1972.

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