Em 1974, João Alves da Costa fazia um balanço da obra de Manuel Guimarães e do seu «esquecimento» pela História:
«Na
história do cinema português, o nome Manuel Guimarães figura como um
caso exemplar. “Saltimbancos” e “Nazaré” constituem dois significativos
marcos da estética do neo-realismo. Guimarães, companheiro de geração
de Redol, de Manuel da Fonseca, de Namora, de Carlos de Oliveira e de
Vergílio Ferreira, foi a grande aposta de um cinema comprometido com as
esperanças do homem nacional. Todavia, a História não é historicista; e,
depois do apogeu, decorreram anos de (quase) esquecimento. Entretanto, a
mais jovem crítica cinematográfica reclama, agora, Manuel Guimarães
como figura central do movimento neo-realista. E o cineasta, sempre a
caminho, fiel aos princípios que decorrem de uma convicção, vai filmar
“Cântico Final”, precisamente baseado num romance de um antigo
companheiro de jornada: Vergílio Ferreira» (Diário Popular, 1974).
O último filme, Cântico Final (1975), seria uma espécie de testamento estetico-político, mas Manuel Guimarães não pôde acabá-lo e a montagem foi concluída por seu filho, Dórdio Guimarães, que não soube talvez corresponder à ideia do autor; é um filme imperfeito e por isso difícil de avaliar.
Depois da morte, Guimarães é recordado por Baptista Rosa como «uma figura estranha, triste e quase envergonhada»: «Vimo-lo, com aquele sorriso triste, enfrentar as maiores dificuldades. Não ter dinheiro para comer, mas não perder o entusiasmo por um projecto no qual confiava em absoluto. E lá ia fazendo os seus filmes» (Plateia, 1975). É esta imagem do realizador esforçado mas frustrado que irá tingir - injustamente - a sua memória.
Sem comentários:
Enviar um comentário