Na recepção de Vidas sem Rumo, em 1956, a severidade da crítica já é maior:
«Vidas sem rumo não é um passo em frente na cinematografia nacional mas também não é um passo à rectaguarda – o que já é raro e notável. “Vidas sem rumo” pretende ser neo-realista e lírico. É ambas as coisas em extremo, o que resulta numa super realidade poética, estranha e fantástica. “Vidas sem rumo” pretende ser humano. As figuras não são suficientemente analisadas e o nosso contacto com elas é superficial e rápido» (Visor 18 in Diário de Lisboa, 13 de Setembro de 1956).
Manuel de Azevedo, aparentemente ignorando os cortes infligidos pela Censura e a odisseia de recuperação do filme, acusa a fragilidade narrativa:
«Por isto ou por aquilo, à obra de Manuel Guimarães falta talvez um clima favorável, para ter o acabamento e a solidez indispensáveis. O certo é que, perante os filmes de Manuel Guimarães, não podemos deixar de ter simpatia, compreensão e um certo prazer espiritual. Mas a fragilidade e a incipiência da construção e da narrativa anulam, em parte, o que há de bem intencionado e até de efectivamente conseguido» (Manuel de Azevedo. À Margem do Cinema Nacional. Porto: Cine-clube, 1956: 47).
Curiosamente, diz o realizador que este foi o seu único filme que se pagou na bilheteira, depois de 3 semanas em cartaz no Teatro da Trindade em Lisboa.
Texto compilado a partir de «Um neo-realismo singular: o cinema de Manuel Guimarães», de Leonor Areal, in Actas das II Jornadas de Cinema Português, UBI, 2011.
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