Manuel Guimarães, nascido em Albergaria-a-Velha em 1915, cresceu no
Porto onde seus pais tinham uma pensão (Pensão do Bolhão, depois
a Pensão Aliados). Estudou pintura na Escola de Belas-Artes do Porto,
tendo como mestre Dordio Gomes e como colega Júlio Resende, entre
outros. Desde cedo fez ilustração para a revista Repórter X e para
o Jornal de Notícias, tendo realizado várias exposições de artes plásticas na sua juventude.
Estreou-se no cinema como assistente geral
de Manoel de Oliveira em Aniki-Bobó (1942). Em 1949 realizou a curta-metragem O Desterrado, premiada pelo SNI. Em 1951 concretizou o filme de fundo Saltimbancos,
primeira obra neo-realista do cinema português, a que se seguiram mais sete
longas-metragens e uma vintena de documentários. A censura
salazarista estropiou alguns dos seus filmes, sobretudo Nazaré
(1952), Vidas sem Rumo (1956) e O Trigo e o Joio (1965), deixando marcas severas numa
obra que a crítica não soube valorizar.
Guimarães morreu em 1975,
sem conseguir concluir a montagem do seu último filme, Cântico
Final (a partir do romance homónimo de Vergílio Ferreira) e a
sua obra caiu no esquecimento. Foi o único realizador neo-realista
do cinema português, o único que ofereceu resistência ideológica
ao regime, quiçá o mais sacrificado de todos.
A vida e a
obra do cineasta Manuel Guimarães foram marcadas pela penúria,
pelos sacrifícios inúmeros, pela resistência ao regime
totalitário. Mas a obra é feita de permanente sonho e lirismo,
de emoções trabalhadas em busca da perfeição impossível –
sempre negada pelos cortes da censura. Desse confronto doloroso da
arte com a violência do regime, nasce uma obra de tonalidades quase
tristes, mas sempre combativa, que neste ano do centenário queremos dar a ver e reviver.
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