(excerto de artigo «Morreu Manuel Guimarães» in Diário de Lisboa, 30-1-1975, assinado por Lauro António)
Transcrição:
Manuel Guimarães nasceu em 19 de Agosto de 1915, em Vale Maior (Albergaria-a-Velha). Em 1931 matricula-se na Escola de Belas Artes do Porto, efectuando dois anos depois a sua primeira exposição de pintura na Casa dos Jornalistas e Homens de Letras.
Em 1936 empreende uma tentativa para executar um filme de desenhos animados. Laureado com diversos prémios na Escola de Belas Artes. Dirige o Grupo de Estudantes de Belas Artes, de onde, nascem as primeiras exposições magnas. São seus companheiros Júlio Resende, António Lino, Amândio Silva, entre outros.
Em 1937 efectua a sua III exposição individual, começando igualmente a trabalhar como cenógrafo para teatro e cinema. Dois anos depois, escreve a história Pardal e C.ª que mais tarde viria a realizar com o título de Vidas sem Rumo, e que a censura cortará mais de 50 por cento da obra primitiva.
Em 1940 colabora como ilustrador de várias revistas e jornais, entre eles Repórter X e JornaI de Noticias. Faz caricaturas, capas para livros e decorações no Palácio de Cristal.
Em 1941, Manuel de Oliveira convida-o para assistente de realização em Aniki Bóbó e, no ano seguinte, António Lopes Ribeiro chama-o para Amor de Perdição.
Em Lisboa, a partir de 1943, Manuel Guimarães tenta o cinema, começando a trabalhar como chefe de publicidade da M. G. M. e, como pintor de cartazes, para o cinema S. Luís. Entre 1946 e 1950, é assistente de realização de inúmeros trabalhos de João Moreira, Jorge Brum do Canto, Artur Duarte, Armando Miranda, Fernando Fragoso e António Lopes Ribeiro.
Como realizador, o seu primeiro trabalho é a curta metragem O Desterrado, que obtém o prémio Paz dos Reis, em 1950. No ano seguinte roda o primeiro filme de fundo, Saltimbancos, segundo romance de Leão Penedo, a que se segue Nazaré (1952), com tratamento literário de Alves Redol. Em 1953 dirige Vidas sem Rumo, que só se estreia em 1956, numa versão totalmente refundida, dados os profundos cortes de censura. Volta a trabalhar como ilustrador e paginador, regressando ao cinema em 1958 com A Costureirinha da Sé, filme musical, de reduzidas ambições, que se destina a manter o realizador ocupado (e possivelmente alimentado).
Uma peça de Bernardo Santareno, O Crime da Aldeia Velha (1963) e um romance de Fernando Namora O Trigo e o Joio assinalam etapas sucessivas. No caso de O Trigo e o Joio, principalmente, haverá que assinalar a intervenção brutal da censura, que destroça de novo esta película.
Manuel Guimarães parte em 1965, para Roma, bolseiro pela Fundação Calouste Gulbenkian. De volta a Portugal, realiza alguns documentários sobre arte para a televisão (em 16 milímetros) e vários documentários para o produtor Ricardo Malheiros, alguns dos quais iniciaram uma série intitulada Artes e Letras.
Em 1971, volta à longa metragem com Lotação Esgotada, comédia ligeira segundo uma ideia de Mário Braga. Ultimamente, preparava com redobra do entusiasmo, o que seria o seu primeiro filme em liberdade e para o qual recebera um subsídio do Instituto Português de Cinema: Cântico Final, adaptação do romance de Vergílio Ferreira, que acabaria por ser a sua obra derradeira.
Manuel Guimarães era casado com Clarice Guimarães, dedicada companheira e anotadora de todos os filmes do cineasta, que era ainda pai de poeta, Dórdio Guimarães.
L. A.
Fonte: casacomum.org
Sem comentários:
Enviar um comentário