sábado, 6 de junho de 2015

Cântico Final (1974-75)

Em 1974, João Alves da Costa fazia um balanço da obra de Manuel Guimarães e do seu «esquecimento» pela História:
«Na história do cinema português, o nome Manuel Guimarães figura como um caso exemplar. “Saltimbancos” e “Nazaré” constituem dois significativos marcos da estética do neo-realismo. Guimarães, companheiro de geração de Redol, de Manuel da Fonseca, de Namora, de Carlos de Oliveira e de Vergílio Ferreira, foi a grande aposta de um cinema comprometido com as esperanças do homem nacional. Todavia, a História não é historicista; e, depois do apogeu, decorreram anos de (quase) esquecimento. Entretanto, a mais jovem crítica cinematográfica reclama, agora, Manuel Guimarães como figura central do movimento neo-realista. E o cineasta, sempre a caminho, fiel aos princípios que decorrem de uma convicção, vai filmar “Cântico Final”, precisamente baseado num romance de um antigo companheiro de jornada: Vergílio Ferreira» (Diário Popular, 1974).

O último filme, Cântico Final (1975), seria uma espécie de testamento estetico-político, mas Manuel Guimarães não pôde acabá-lo e a montagem foi concluída por seu filho, Dórdio Guimarães, que não soube talvez corresponder à ideia do autor; é um filme imperfeito e por isso difícil de avaliar.

Depois da morte, Guimarães é recordado por Baptista Rosa como «uma figura estranha, triste e quase envergonhada»: «Vimo-lo, com aquele sorriso triste, enfrentar as maiores dificuldades. Não ter dinheiro para comer, mas não perder o entusiasmo por um projecto no qual confiava em absoluto. E lá ia fazendo os seus filmes» (Plateia, 1975). É esta imagem do realizador esforçado mas frustrado que irá tingir - injustamente - a sua memória.

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