segunda-feira, 25 de maio de 2015

Saltimbancos (1951)


O primeiro filme, Saltimbancos (1951), foi saudado pela crítica e pelos escritores neo-realistas na revista Imagem que lhe dedicou um número especial (n.º 13, de Janeiro 1952). O tom foi de entusiasmo:

«Esperemos que “Saltimbancos” represente o primeiro passo no sentido da emancipação – que já vai tardando – do nosso cinema»;

«Acreditamos que “Saltimbancos” é um heróico e honesto passo em frente no Cinema Português. Não uma pomposa etapa vencida, não. Mas algo de diferente, de mais digno»;

«Manuel Guimarães, ao realizar “Saltimbancos”, propôs-se uma tarefa que, só por si, o torna credor do nosso inteiro aplauso e do nosso incondicional apoio: afastar o cinema português dos trilhos fáceis e inconsequentes em que erradamente anda perdido – e orientá-lo no sentido da realidade, dos problemas humanos vividos por personagens reais e autênticos, directamente arrancadas à multidão anónima com que nos cruzamos a cada passo» (Luís Francisco Rebelo).

Embora houvesse críticas menos elogiosas:

«Faltou o domínio sobre a ficção, a arte da sequência, o poder da emoção dramática» (Roberto Nobre).

Bénard da Costa "respiga, quase ao acaso, algumas citações mais emblemáticas" (in Textos CP de 11 de Março de 1997):

«Que nos deu o Cinema Nacional de mais vivo, de mais pungente?» (Romeu Correia);

«... o trabalho de Manuel Guimarães é um acontecimento histórico no cinema português (...) conseguiu restabelecer-nos a confiança numa altura em que o cinema da nossa terra acabara por ser uma cidadela de analfabetos e comerciantes, por assim dizer inexpugnável” (Fernando Namora);

«Saltimbancos é, no quadro da cinematografia portuguesa, uma obra excepcional (...) vem mostrar que se abre ao cinema português um caminho realista” (Piteira Santos);

«Saltimbancos fica na nossa história do cinema (...) como o primeiro filme inteiro, de intenção firmemente honesta e nada transigente com êxitos fáceis que se produziu em Portugal» (Cardoso Pires)».

Saltimbancos estreou em 24 de Outubro de 1951 no cinema Batalha no Porto, e em Lisboa em 15 de Janeiro de 1952 no Éden.

Sobre a existência de cortes aplicados pela Censura em Saltimbancos, temos apenas a informação dada por Bénard da Costa: «Em 51, Guimarães (...) adaptou às telas um romance de Leão Penedo, escritor neo-realista, intitulado Saltimbancos. Quase todos os “intelectuais de esquerda” saíram à liça para defender a obra, que se sabia ter sofrido algumas tesouradas da censura.»
(João Bénard da Costa. Histórias do Cinema. Lisboa: IN-CM, 1991, p.108)

Texto compilado a partir de «Um neo-realismo singular: o cinema de Manuel Guimarães», de Leonor Areal, in Actas das II Jornadas de Cinema Português, UBI, 2011:.

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